Tradicionalistas são minoria da Igreja Católica

Por Tom Heneghan

PARIS (Reuters) - Missas em latim aos domingos, peixe na sexta-feira, muito incenso e nada de meninas como coroinhas -- os católicos tradicionalistas adoram o modo como a Igreja costumava ser.

Limitados a um papel discreto na Igreja de hoje, esses adversários das inovações encontraram um improvável defensor de sua causa no ator Mel Gibson, cujo filme "The Passion of the Christ" (A Paixão de Cristo) estreou na quarta-feira nos cinemas norte-americanos provocando polêmica.

Cenas brutais de tortura e da crucifixão lembram a forma medieval de retratar os últimos momentos da vida de Cristo. Diálogos em línguas antigas, entre as quais o latim, fazem renascer a linguagem usada pela Igreja para celebrar missas por mais de 1.500 anos até a década de 60, quando as línguas modernas tomaram seu lugar.

O filme parece muito diferente dos sucessos de bilheteria anteriores de Gibson -- comédias românticas ou filmes de ação apimentados com generosas doses de sexo.

Mas, apesar de toda a atenção despertada pela produção, os tradicionalistas continuam a ser uma minoria diminuta, com pequenas chances de assumir um papel de maior destaque dentro da Igreja Católica.

"O número de tradicionalistas nos EUA é minúsculo em relação aos mais de 68 milhões de católicos", afirmou William Dinges, da Universidade Católica da América, em Washington.

Segundo o estudioso, havia 320 locais de culto para tradicionalistas nos EUA.

O maior movimento do tipo, a Sociedade do Santo Pio X, com sede na Suíça, pode ter algumas centenas de milhares de seguidores em todo o mundo, uma gota no oceano quando comparada com os 1 bilhão de fiéis da maior igreja da Terra.

O papa João Paulo 2o., cujas idéias tradicionais e meios de comunicação modernos cativam os católicos conservadores, tentou em vão conduzir os rebeldes de volta ao Vaticano.

Mas, comentando os 25 anos de papado do atual líder católico, o chefe da Pio X, bispo Bernard Fellay, disse neste mês que as negociações com o Vaticano estavam paralisadas e que a abertura do papa para outras religiões havia "subvertido a ordem desejada por Deus".

POUCOS, MAS FERVOROSOS

O que falta aos tradicionalistas em números, sobra-lhes em fervor. Todos se opõem às reformas impostas pelo Segundo Concílio Vaticano (1962-65) para adaptar a Igreja à era moderna.

Eles insistem na preservação da Missa Tridentina, a liturgia antiga realizada em latim, e consideram o diálogo dos católicos com outras religiões uma negação da auto-imagem tradicional da Igreja como o único caminho da salvação.

Vários fundaram suas próprias igrejas. A Pio X possui 454 padres e quatro bispos, todos excomungados pelo Vaticano. Mas não há uma organização central e eles discordam a respeito de alguns detalhes.

"Há gradações de envolvimento", disse Dinges à Reuters.

Situados em uma das pontas desse espectro, os sedevacantistas (do latim, "cadeira vazia") "representam os tradicionalistas mais radicalizados", afirmou o estudioso. Eles acreditam que todos os papas depois de João 23 (1958-63) são usurpadores porque suas reformas violaram as leis da Igreja.

Hutton Gibson, pai do ator, foi criticado por defender essa vertente do movimento e por dar declarações sobre o Holocausto consideradas por alguns como anti-semitas.

Mel Gibson não se manifesta tão abertamente como o pai sobre sua fé e negou veementemente que seu filme seja anti-semita, tendo chamado o anti-semitismo de um pecado.

"Sou apenas um católico apostólico romano, do modo como eles eram até a metade dos anos 60", afirmou na semana passada.

Fonte: http://br.news.yahoo.com/040226/5/ihz9.html 

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