FOI ASSIM... O DESEJADO DE TODAS AS NAÇÕES - EGW
Cap 78 - O Calvário
"E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram."
Luc. 23:33. "Para santificar o povo pelo Seu próprio sangue", Cristo
"padeceu fora da porta." Heb. 13:12. Pela transgressão da lei divina,
Adão e Eva foram banidos do Éden. Cristo, nosso substituto, devia sofrer fora
dos limites de Jerusalém. Ele morreu fora da porta, onde eram executados
malfeitores e homicidas. Plenas de sentido são as palavras: "Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós." Gál. 3:13.
Uma vasta multidão seguiu a Jesus do tribunal ao Calvário. As novas de Sua
condenação se espalharam por toda Jerusalém, e gente de todas as classes e de
todas as categorias afluíam ao lugar da crucifixão. Os sacerdotes e principais
haviam-se comprometido, caso Jesus lhes fosse entregue, a não molestar Seus
seguidores; e os discípulos da cidade e dos arredores uniram-se à multidão
que acompanhava o Salvador.
Ao passar Jesus a porta do pátio de Pilatos, a cruz preparada para Barrabás
foi-lhe deposta nos feridos, sangrentos ombros. Dois companheiros de Barrabás
deviam sofrer a morte ao mesmo tempo que Jesus, e sobre eles também foi posta a
cruz. A carga do Salvador era demasiado pesada para o estado de fraqueza e
sofrimento em que Se achava. Desde a ceia pascoal com os discípulos, não
tomara Ele nenhum alimento, nem bebera. Angustiara-Se no jardim do Getsêmani em
conflito com as forças satânicas. Suportara a agonia da traição, e vira os
discípulos abandonarem-nO e fugir. Fora levado a Anás, depois a Caifás e em
seguida a Pilatos. De Pilatos fora mandado para Herodes, e reenviado a Pilatos.
De um insulto para outro, de uma a outra zombaria, duas vezes torturado por açoites
- toda aquela noite fora uma sucessão de cenas de molde a provar até ao máximo
uma alma de homem. Cristo não fracassara. Não proferira palavra alguma que não
visasse a glória de Deus. Através de toda a ignominiosa farsa de julgamento,
portara-Se com firmeza e dignidade. Mas quando após ser açoitado pela segunda
vez, a cruz Lhe foi posta sobre os ombros, a natureza humana não mais podia
suportar. Caiu desmaiado sob o fardo.
A multidão que seguia o Salvador viu Seus fracos, vacilantes passos, mas não
manifestou compaixão. Insultaram-nO e injuriaram-nO por não poder conduzir a
pesada cruz. De novo Lhe foi posto em cima o fardo, e outra vez caiu desmaiado
por terra. Viram os perseguidores que Lhe era impossível levar mais adiante
aquele peso. Não sabiam onde encontrar alguém que quisesse transportar a
humilhante carga. Os próprios judeus não o podiam fazer, pois a contaminação
os impediria de observar a páscoa. Ninguém, mesmo dentre a turba que O
acompanhava, quereria rebaixar-se e carregar a cruz.
Por essa ocasião um estranho, Simão, cireneu, chegando do campo, encontra-se
com o cortejo. Ouve as zombarias e a linguagem baixa da turba; ouve as palavras
desdenhosamente repetidas: Abri caminho para o Rei dos judeus! Detém-se
espantado com a cena; e, ao exprimir ele compaixão, agarram-no e lhe põem nos
ombros a cruz.
Simão ouvira falar de Jesus. Seus filhos criam no Salvador, mas ele próprio não
era discípulo. O conduzir a cruz ao Calvário foi-lhe uma bênção e,
posteriormente, mostrou-se sempre grato por essa providência. Isso o levou a
tomar sobre si a cruz de Cristo por sua própria escolha, suportando-lhe sempre
animosamente o peso.
Não poucas mulheres se acham na multidão que segue à Sua morte cruel Aquele
que não foi condenado. Sua atenção fixa-se em Jesus. Algumas O tinham visto
antes. Outras Lhe levaram doentes e sofredores. Outras ainda foram, elas mesmas,
curadas por Ele. Relata-se então a história das cenas que ocorreram. Elas se
admiram do ódio da turba para com Aquele por quem o coração se lhes comove
quase a ponto de partir-se. E não obstante a ação da enfurecida massa, e as
coléricas palavras dos sacerdotes e principais, essas mulheres exprimem o
compassivo interesse que as possui. Ao cair Jesus desfalecido sob a cruz,
irrompem em lamentoso pranto.
Foi isso unicamente que atraiu a atenção de Cristo. Embora em meio de tanto
sofrimento, enquanto suportava os pecados do mundo, não era indiferente à
expressão de dor. Com terna simpatia contemplou essas mulheres. Não eram
crentes nEle; sabia que não O estavam lamentando como um enviado de Deus, mas
movidas por sentimentos de piedade humana. Não lhes desprezava a simpatia, mas
esta Lhe despertou no coração outra, mais profunda ainda, para com elas
mesmas. "Filhas de Jerusalém", disse Ele, "não choreis por Mim,
mas chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos." Luc. 23:28. Do
espetáculo que tinha diante de Si, alongou Jesus o olhar ao tempo da destruição
de Jerusalém. Naquela terrível cena, muitas das que estavam chorando agora por
Ele, haveriam de perecer com seus filhos.
Da queda de Jerusalém passaram os pensamentos de Jesus a um mais amplo juízo.
Na destruição da impenitente cidade viu Ele um símbolo da final destruição
a sobrevir ao mundo. Disse: "Então começarão a dizer aos montes: Caí
sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto,
que se fará ao seco?" Luc. 23:30 e 31. Pelo madeiro verde, Jesus Se
representava a Si mesmo, o inocente Redentor. Deus permitiu que Sua ira contra a
transgressão caísse sobre Seu amado Filho. Devia ser crucificado pelos pecados
dos homens. Que sofrimento, então, havia de suportar o pecador que continuasse
na transgressão? Todos os impenitentes e incrédulos teriam de conhecer uma dor
e miséria que a língua é impotente para exprimir.
Da multidão que acompanhava o Salvador ao Calvário, muitos O haviam seguido
com jubilosas hosanas e agitando palmas, enquanto marchava triunfalmente para
Jerusalém. Mas não poucos dos que então Lhe entoaram louvores porque era
popular assim fazer, avolumavam agora o clamor: "Crucifica-O,
crucifica-O"! Luc. 23:21. Quando Jesus cavalgava o jumento em direção de
Jerusalém, as esperanças dos discípulos subiram ao mais alto grau.
Tinham-se-Lhe aglomerado em torno, sentindo ser elevada honra estar ligados a
Ele. Agora, em Sua humilhação, seguiam-nO a distância. Estavam possuídos de
pesar e curvados ante o malogro de suas esperanças. Como se verificavam as
palavras de Cristo: "Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim;
porque está escrito: Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão."
Mat. 26:31.
Chegando ao lugar da execução, os presos foram ligados ao instrumento da
tortura. Os dois ladrões lutaram às mãos dos que os puseram na cruz; Jesus,
porém, nenhuma resistência opôs. A mãe de Jesus, apoiada por João, o discípulo
amado, seguira seu Filho ao Calvário. Vira-O desmaiar sob o peso do madeiro, e
anelara suster com a mão aquela cabeça ferida, banhar aquela fronte que um dia
se lhe reclinara no seio. Não lhe era, no entanto, concedido esse triste privilégio.
Ela, como os discípulos, acalentava ainda a esperança de que Jesus
manifestasse Seu poder e Se livrasse dos inimigos. Mais uma vez seu coração
desfaleceria, ao evocar as palavras em que lhe haviam sido preditas as próprias
cenas que se estavam desenrolando então. Enquanto os ladrões eram amarrados à
cruz, ela observava em angustiosa suspensão. Haveria de Aquele que dera vida
aos mortos, sofrer o ser Ele próprio crucificado? Suportaria o Filho de Deus o
ser tão cruelmente morto? Deveria ela renunciar a sua fé de que Jesus era o
Messias? Deveria testemunhar-Lhe a vergonha e a dor, sem ter sequer o consolo de
servi-Lo em Sua aflição? Viu-Lhe as mãos estendidas sobre a cruz; foram
trazidos o martelo e os pregos, e, ao serem estes cravados na tenra carne, os
discípulos, fundamente comovidos, levaram da cruel cena o corpo desfalecido da
mãe de Jesus.
O Salvador não murmurou uma queixa. O rosto permaneceu-Lhe calmo e sereno, mas
grandes gotas de suor borbulhavam-Lhe na fronte. Nenhuma mão piedosa a
enxugar-Lhe do rosto o suor da morte, nem palavras de simpatia e inabalável
fidelidade para Lhe confortar o coração humano. Enquanto os soldados
executavam a terrível obra, Jesus orava pelos inimigos: "Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem." Luc. 23:34. Seu pensamento passou da dor própria
ao pecado dos que O perseguiam, e à terrível retribuição que lhes caberia.
Nenhuma maldição invocou sobre os soldados que O estavam tratando tão
rudemente. Nenhuma vingança pediu contra os sacerdotes e príncipes que
contemplavam com maligna satisfação o cumprimento de seu desígnio. Cristo Se
apiedou deles em sua ignorância e culpa. Só exalou uma súplica por seu perdão
- "porque não sabem o que fazem".
Soubessem eles que estavam torturando Aquele que viera salvar da eterna ruína a
raça pecadora, e ter-se-iam possuído de remorso e horror. Sua ignorância, porém,
não lhes tirava a culpa; pois era seu privilégio conhecer e aceitar a Jesus
como seu
Salvador. Alguns deles veriam ainda o seu pecado, e arrepender-se-iam e se
converteriam. Alguns, por sua impenitência, tornariam, a seu respeito, uma
impossibilidade o deferimento da súplica de Jesus. Todavia, assim mesmo o desígnio
de Deus tinha seu cumprimento. Jesus estava adquirindo o direito de Se tornar o
advogado dos homens na presença do Pai.
Aquela oração de Cristo por Seus inimigos abrangia o mundo inteiro. Envolvia
todo pecador que já vivera ou viria ainda a viver, desde o começo do mundo, até
ao fim dos séculos. Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus. A
todos é gratuitamente oferecido o perdão. "Quem quiser" pode ter paz
com Deus, e herdar a vida eterna.
Assim que Jesus foi pregado à cruz, ergueram-na homens vigorosos, sendo com
grande violência atirada dentro do lugar para ela preparado. Isso produziu a
mais intensa agonia ao Filho de Deus. Pilatos escreveu então uma inscrição em
hebraico, grego e latim, colocando-a no madeiro, por sobre a cabeça de Jesus.
Rezava: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus." Essa inscrição irritou os
judeus. Haviam gritado no pátio de Pilatos: "Crucifica-O"! "Não
temos rei senão o César". João 19:15. Tinham declarado que, quem quer
que reconhecesse outro rei, era traidor. Pilatos escreveu o sentimento que
haviam expresso. Nenhuma ofensa era mencionada, a não ser que Jesus era Rei dos
Judeus. A inscrição era um virtual reconhecimento da fidelidade dos judeus ao
poder romano. Declarava que qualquer que pretendesse ser Rei de Israel, seria
por eles julgado digno de morte. Os sacerdotes se haviam enganado a si mesmos.
Quando estavam tramando a morte de Cristo, Caifás declarara conveniente que um
homem morresse pela nação. Agora se revelava sua hipocrisia. A fim de eliminar
a Cristo, prontificaram-se a sacrificar a própria existência nacional.
Os sacerdotes viram o que tinham feito, e pediram a Pilatos que mudasse a inscrição.
Disseram: "Não escrevas Rei dos Judeus; mas que Ele disse: Sou Rei dos
Judeus." Mas Pilatos estava indignado contra si mesmo por causa de sua
anterior fraqueza, e desprezou inteiramente os invejosos e astutos sacerdotes e
príncipes. Respondeu friamente: "O que escrevi, escrevi." João 19:21
e 22.
Um poder mais alto que Pilatos ou os judeus dirigia a colocação daquela inscrição
por sobre a cabeça de Jesus. Na providência divina, devia ela despertar reflexão
e o exame das Escrituras. O lugar em que Cristo estava crucificado achava-se próximo
da cidade. Milhares de pessoas de todas as terras se encontravam em Jerusalém
naquele tempo, e a inscrição que declarava Jesus de Nazaré o Messias lhes
chamaria a atenção. Era uma verdade palpitante, transcrita por mão guiada por
Deus.
Nos sofrimentos de Cristo sobre a cruz, cumpriu-se a profecia. Séculos antes da
crucifixão, predissera o Salvador o tratamento que havia de receber. Dissera:
"Pois Me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores Me cercou,
transpassaram-Me as mãos e os pés. Poderia contar todos os Meus ossos; eles Me
vêem e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sortes
sobre a Minha túnica." Sal. 22:16-18. A profecia quanto a Suas vestes
cumpriu-se sem conselho nem interferência de amigos ou inimigos do Crucificado.
Aos soldados que O puseram na cruz, foram dados os Seus vestidos. Cristo ouviu a
altercação dos homens, enquanto os dividiam entre si. Sua túnica era tecida
de alto a baixo, sem costuras, e disseram: "Não a rasguemos, mas lancemos
sorte sobre ela, para ver de quem será."
Em outra profecia declarou o Salvador: "Afrontas Me quebrantaram o coração,
e estou fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve
nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-Me fel por mantimento, e na
Minha sede Me deram a beber vinagre." Sal. 69:20 e 21. Aos que padeciam
morte de cruz, era permitido ministrar uma poção entorpecente, para amortecer
a sensação de dor. Essa foi oferecida a Jesus; mas, havendo-a provado,
recusou-a. Não aceitaria nada que Lhe obscurecesse a mente. Sua fé devia
ater-se firmemente a Deus. Essa era Sua única força. Obscurecer a mente era
oferecer vantagem a Satanás.
Os inimigos de Jesus descarregaram sobre Ele sua cólera, enquanto pendia da
cruz. Sacerdotes, príncipes e escribas uniram-se à turba em zombar do
moribundo Salvador. No batismo e na transfiguração, a voz de Deus se fizera
ouvir, proclamando Cristo Seu Filho. Outra vez justamente antes de ser Cristo
traído, o Pai falara, testificando de Sua divindade. Agora, porém, muda
permanecia a voz do Céu. Nenhum testemunho se ouviu em favor de Cristo. Sozinho
sofreu maus-tratos e escárnios da parte dos ímpios.
"Se és Filho de Deus", diziam, "desce da cruz."
"Salve-Se a Si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus." No
deserto da tentação, declarara Satanás: "Se Tu és o Filho de Deus,
manda que estas pedras se tornem em pães." "Se Tu és o Filho de
Deus, lança-Te de aqui abaixo" - do pináculo do templo. Mat. 4:3 e 6. E
Satanás com seus anjos, em forma humana, achava-se presente ao pé da cruz. O
arquiinimigo e suas hostes cooperavam com os sacerdotes e príncipes. Os mestres
do povo haviam estimulado a turba ignorante a pronunciar julgamento contra um
homem a quem muitos dentre ela nem sequer tinham visto, até serem solicitados a
dar testemunho contra Ele. Sacerdotes, príncipes, fariseus e a endurecida plebe
coligavam-se num satânico frenesi. Os guias religiosos se uniram a Satanás e a
seus anjos. Cumpriam-lhes as ordens.
Jesus, sofrendo e moribundo, ouvia cada palavra, ao declararem os sacerdotes:
"Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo. O Cristo, o Rei de
Israel, desça agora da cruz, para que O vejamos e acreditemos." Mat. 27:42
e 43. Cristo poderia haver descido da cruz. Mas foi porque Ele não Se salvou a
Si mesmo que o pecador tem esperança de perdão e favor para com Deus.
Em seu escárnio do Salvador, os que professavam ser os expoentes das profecias
repetiam as próprias palavras que a inspiração predissera que profeririam
nessa ocasião. Em sua cegueira, no entanto, não viam estar cumprindo a
profecia. Aqueles que, em chacota, diziam as palavras: "Confiou em Deus;
livre-O agora, se O ama; porque disse: Sou Filho de Deus", mal pensavam que
seu testemunho havia de ressoar através dos séculos. Mas se bem que proferidas
em escárnio, essas palavras levaram homens a pesquisar as Escrituras como nunca
dantes tinham feito. Sábios ouviram, examinaram, ponderaram e oraram. Alguns
houve que não descansaram enquanto não viram, comparando texto com texto, o
sentido da missão de Cristo. Nunca houvera, anteriormente, tão geral
conhecimento de Jesus como quando Ele pendia do madeiro. No coração de muitos
que contemplavam a cena da crucifixão e ouviram as palavras de Cristo, estava
resplandecendo a luz da verdade.
A Cristo, em Sua agonia na cruz, sobreveio um raio de conforto. Foi a súplica
do ladrão arrependido. Ambos os homens que estavam crucificados com Jesus, a
princípio O injuriaram; e um deles, sob os sofrimentos, tornara-se cada vez
mais desesperado e provocante. Assim não foi, porém, com o companheiro. Este não
era um criminoso endurecido; extraviara-se por más companhias, mas era menos
culpado que muitos dos que ali se achavam ao pé da cruz, injuriando o Salvador.
Vira e ouvira Jesus, e ficara convencido, por Seus ensinos, mas dEle fora
desviado pelos sacerdotes e príncipes. Procurando abafar a convicção,
imergira mais e mais fundo no pecado, até que foi preso, julgado como criminoso
e condenado a morrer na cruz. No tribunal e a caminho para o Calvário, estivera
em companhia de Jesus. Ouvira Pilatos declarar: "Não acho nEle crime
algum." João 19:4. Notara-Lhe o porte divino, e Seu piedoso perdão aos
que O atormentavam. Na cruz, vê os muitos grandes doutores religiosos
estenderem desdenhosamente a língua, e ridicularizarem o Senhor Jesus. Vê o
menear das cabeças. Ouve a ultrajante linguagem repetida por seu companheiro de
culpa. "Se Tu és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo, e a nós." Luc.
23:39. Ouve, entre os transeuntes, muitos a defenderem Jesus. Ouve-os
repetindo-Lhe as palavras, narrando-Lhe as obras. Volve-lhe a convicção de que
Este é o Cristo. Voltando-se para seu companheiro no crime, diz: "Tu nem
ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?" Luc. 23:40. Os ladrões
moribundos não mais têm a temer os homens. Mas um deles é assaltado pela
convicção de que há um Deus a temer, um futuro a fazê-lo tremer. E agora,
todo poluído pelo pecado como se acha, a história de sua vida está a findar.
"E nós, na verdade, com justiça", geme ele, "porque recebemos o
que nossos feitos mereciam; mas Este nenhum mal fez." Luc. 23:41.
Não há questão agora. Não há dúvidas, nem censuras também. Quando
condenado por seu crime, o ladrão ficara possuído de desânimo e desespero;
mas pensamentos estranhos, ternos, surgem agora. Evoca tudo quanto ouvira de
Jesus, como Ele curara os doentes e perdoara os pecados. Ouvira as palavras dos
que nEle criam e O seguiram em pranto. Vira e lera o título por sobre a cabeça
do Salvador. Ouvira-o repetido pelos que passavam, alguns com lábios tristes e
trêmulos, outros com gracejos e zombarias. O Espírito Santo ilumina-lhe a
mente, e pouco a pouco se liga a cadeia das provas. Em Jesus ferido, zombado e
pendente da cruz, vê o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Num misto
de esperança e de agonia em sua voz, a desamparada, moribunda alma atira-se
sobre o agonizante Salvador. "Senhor, lembra-Te de mim, quando vieres no
Teu reino." Luc. 23:42, Versão Trinitariana.
A resposta veio pronta. Suave e melodioso o acento, cheias de amor, de compaixão
e de poder as palavras: "Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso."
Luc. 23:43.
Por longas horas de agonia, injúrias e escárnios caíram aos ouvidos de Jesus.
Pendente da cruz, ouve ainda em volta o som das zombarias e maldições. Coração
anelante, estivera atento a ver se ouvia alguma expressão de fé da parte dos
discípulos. E ouvira apenas as lamentosas palavras: "Nós esperávamos que
fosse Ele o que remisse a Israel." Luc. 24:21. Quão grata foi, pois, ao
Salvador a declaração de fé e amor do ladrão prestes a morrer! Enquanto os
dirigentes judeus negam a Jesus e Seus próprios discípulos duvidam de Sua
divindade, o pobre ladrão, no limiar da eternidade, Lhe chama Senhor. Muitos
estavam dispostos a chamá-Lo Senhor quando operava milagres, e depois de haver
ressurgido do sepulcro; ninguém, no entanto, O reconheceu enquanto, moribundo,
pendia da cruz, a não ser o ladrão arrependido, salvo à hora undécima.
Os espectadores ouviram as palavras do ladrão, quando chamou Senhor a Jesus. O
tom do arrependido despertou-lhes a atenção. Aqueles que, ao pé da cruz,
questionaram pelas vestes de Cristo e lançaram sortes sobre a túnica, pararam
para escutar. Emudeceram as vozes iradas. Com a respiração suspensa, olhavam
para Cristo e esperaram a resposta daqueles lábios já quase sem vida.
Ao proferir Ele as palavras de promessa, brilhante, vívido clarão penetrou a
escura nuvem que parecia envolver a cruz. Ao ladrão contrito sobreveio a
perfeita paz da aceitação de Deus. Em Sua humilhação, era Cristo
glorificado. Aquele que, a todos os outros olhos, parecia vencido, era o
Vencedor. Foi reconhecido como O que leva os pecados. Os homens podem exercer
poder sobre Seu corpo humano. Podem-Lhe ferir as santas fontes com a coroa de
espinhos. Podem despojá-Lo das vestes e contender sobre a divisão das mesmas.
Não O podem, porém, privar do poder de perdoar pecados. Morrendo, dá
testemunho em favor de Sua divindade e da glória do Pai. Seu ouvido não está
agravado para que não possa ouvir, nem sua mão encurtada para não poder
salvar. É Seu direito salvar perfeitamente a todos quantos se chegam a Deus por
Ele.
Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso. Cristo não prometeu que
o ladrão estaria com Ele no Paraíso naquele dia. Ele próprio não foi naquele
dia para o Paraíso. Dormiu no sepulcro e, na manhã da ressurreição, disse:
"Ainda não subi para Meu Pai." João 20:17. Mas no dia da crucifixão,
o dia da aparente derrota e treva, foi feita a promessa. "Hoje",
enquanto morria na cruz como malfeitor, Cristo dava ao pobre pecador a certeza:
"Tu estarás comigo no Paraíso."
Os ladrões crucificados com Jesus foram colocados "um de cada lado, e
Jesus no meio". Isso foi feito por instrução dos sacerdotes e principais.
A posição de Cristo entre os ladrões indicava ser Ele o maior criminoso dos
três. Assim se cumpriu a escritura: "Foi contado com os
transgressores." Isa. 53:12. A inteira significação de seu ato, porém, não
viram os sacerdotes. Como Jesus crucificado com os ladrões, foi posto "no
meio", assim foi Sua cruz colocada no meio de um mundo a perecer no pecado.
E as perdoadoras palavras dirigidas ao ladrão arrependido, fizeram brilhar uma
luz que brilhará até aos remotos cantos da Terra.
Com espanto contemplavam os anjos o infinito amor de Jesus, que, sofrendo a mais
intensa agonia física e mental, pensava apenas nos outros e animava a
arrependida alma a crer. Em Sua humilhação, dirigira-Se, como profeta, às
filhas de Jerusalém; como sacerdote e advogado, intercedera com o Pai pelo perdão
de Seus assassinos; como amorável Salvador perdoara os pecados do arrependido
ladrão.
Enquanto o olhar de Jesus vagueava pela multidão que O cercava, uma figura Lhe
prendeu a atenção. Ao pé da cruz se achava Sua mãe, apoiada pelo discípulo
João. Ela não podia suportar permanecer longe de seu Filho; e João, sabendo
que o fim se aproximava, trouxera-a de novo para perto da cruz. Na hora de Sua
morte, Cristo lembrou-Se de Sua mãe. Olhando-lhe o rosto abatido pela dor, e
depois a João, disse, dirigindo-Se a ela: "Mulher, eis aí o teu
filho"; e depois a João: "Eis aí tua mãe." João 19:26 e 27.
João entendeu as palavras de Cristo, e aceitou o encargo. Levou imediatamente
Maria para sua casa, e daquela hora em diante dela cuidou ternamente. Ó
piedoso, amorável Salvador! por entre toda a Sua dor física e mental angústia,
teve solícito cuidado para com Sua mãe! Não possuía dinheiro com que lhe
provesse o conforto; achava-Se, porém, entronizado na alma de João, e
entregou-lhe Sua mãe como precioso legado. Assim providenciou para ela aquilo
de que mais necessitava - a terna simpatia de alguém que a amava porque ela
amava a Jesus. E, acolhendo-a como santo legado, estava João recebendo grande bênção.
Ela lhe era uma contínua recordação de seu querido Mestre.
O perfeito exemplo do amor filial de Cristo resplandece com não esmaecido
brilho por entre a neblina dos séculos. Durante cerca de trinta anos Jesus, por
Sua labuta diária, ajudara nas responsabilidades domésticas. E agora, mesmo em
Sua derradeira agonia, Se lembra de providenciar em favor de Sua mãe viúva e
aflita. O mesmo espírito se manifestará em todo discípulo de nosso Senhor. Os
que seguem a Cristo sentirão ser uma parte de sua religião respeitar os pais e
prover-lhes as necessidades. O pai e a mãe nunca deixarão de receber, do coração
em que se abriga o amor de Cristo, solícito cuidado e terna simpatia.
E agora, estava a morrer o Senhor da glória, o Resgate da raça. Entregando a
preciosa vida, não foi Cristo sustido por triunfante alegria. Tudo eram
opressivas sombras. Não era o temor da morte que O oprimia. Nem a dor e a ignomínia
da cruz Lhe causavam a inexprimível angústia. Cristo foi o príncipe dos
sofredores; mas Seu sofrimento provinha do senso da malignidade do pecado, o
conhecimento de que, mediante a familiaridade com o mal, o homem se tornara cego
à enormidade do mesmo. Cristo viu quão profundo é o domínio do pecado no
coração humano, quão poucos estariam dispostos a romper com seu poder. Sabia
que, sem o auxílio divino, a humanidade devia perecer, e via multidões
perecerem ao alcance de abundante auxílio.
Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniqüidade de nós
todos. Foi contado como transgressor, a fim de que nos redimisse da condenação
da lei. A culpa de todo descendente de Adão pesava-Lhe sobre a alma. A ira de
Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da
iniqüidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. Toda a Sua vida
anunciara Cristo ao mundo caído as boas novas da misericórdia do Pai, de Seu
amor cheio de perdão. A salvação para o maior pecador, fora Seu tema. Mas
agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face
reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa
hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá
ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia
a dor física.
Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus. O Salvador não
podia enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe
apresentava Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação
do sacrifício por parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus,
que Sua separação houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de
experimentar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça
culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como
substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o
coração do Filho de Deus.
Com assombro presenciara os anjos a desesperada agonia do Salvador. As hostes do
Céu velaram o rosto, do terrível espetáculo. A inanimada natureza exprimiu
sua simpatia para com seu insultado e moribundo Autor. O Sol recusou contemplar
a espantosa cena. Seus raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia,
quando, de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um sudário,
envolveu a cruz. "Houve trevas em toda a Terra até à hora nona."
Mar. 15:33. Não houve eclipse ou outra qualquer causa natural para essa escuridão,
tão espessa como a da meia-noite sem luar nem estrelas. Foi miraculoso
testemunho dado por Deus, para que se pudesse confirmar a fé das vindouras gerações.
Naquela densa treva ocultava-Se a presença de Deus. Ele faz da treva o Seu
pavilhão, e esconde Sua glória dos olhos humanos.
Deus e Seus santos anjos estavam ao pé da cruz. O Pai estava com o Filho. Sua
presença, no entanto, não foi revelada. Houvesse Sua glória irrompido da
nuvem, e todo espectador humano teria sido morto. E naquela tremenda hora não
devia Cristo ser confortado com a presença do Pai. Pisou sozinho o lagar, e dos
povos nenhum havia com Ele.
Na espessa escuridão, velou Deus a derradeira agonia humana de Seu Filho. Todos
quantos viram Cristo em Seu sofrimento, convenceram-se de Sua divindade. Aquele
rosto, uma vez contemplado pela humanidade, não seria nunca mais esquecido.
Como a fisionomia de Caim lhe exprimia a culpa de homicida, assim o semblante de
Cristo revelava inocência, serenidade, benevolência - a imagem de Deus. Mas
Seus acusadores não queriam dar atenção ao cunho celestial. Durante longas
horas de agonia fora Cristo contemplado pela escarnecedora multidão. Agora,
ocultou-O misericordiosamente o manto divino.
Parecia haver baixado sobre o Calvário um silêncio sepulcral. Inominável
terror apoderou-se da multidão que circundava a cruz. As maldições e injúrias
cessaram a meio das frases iniciadas. Homens, mulheres e crianças caíram
prostrados por terra. De quando em quando irradiavam da nuvem vívidos clarões,
mostrando a cruz e o crucificado Redentor. Sacerdotes, príncipes, escribas,
executores bem como a turba, todos pensavam haver chegado o momento de sua
retribuição. Depois de algum tempo, murmuravam alguns que Jesus desceria agora
da cruz. Tentavam outros, às apalpadelas, achar o caminho de volta para a
cidade, batendo no peito e lamentando de temor.
À hora nona, ergueu-se a treva de sobre o povo, mas continuou a envolver o
Salvador. Era um símbolo da agonia e do horror que pesavam sobre o coração
dEle. Olho algum podia penetrar a escuridão que rodeava a cruz, e ninguém
podia sondar a sombra mais profunda ainda que envolvia a sofredora alma de
Cristo. Os furiosos relâmpagos pareciam dirigidos contra Ele ali pendente da
cruz. Então Jesus clamou com grande voz: "Eli, Eli, lamá sabactâni? que
traduzido, é: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mar. 15:34. Ao
baixarem sobre o Salvador as trevas exteriores, muitas vozes exclamaram: "A
vingança do Céu está sobre Ele. Os raios da ira divina são contra Ele lançados,
porque pretendeu ser Filho de Deus." Muitos dos que nEle criam, ouviram-Lhe
o desesperado grito. E abandonou-os a esperança. Se Deus desamparara a Jesus,
em quem podiam confiar Seus seguidores?
Quando as trevas se ergueram do opresso espírito de Cristo, reavivou-se-Lhe o
sentido do sofrimento físico, e disse: "Tenho sede." João 19:28. Um
dos soldados romanos, tocado de piedade, ao contemplar os lábios ressequidos,
tomou uma esponja, numa haste de hissopo, e, imergindo-a numa vasilha de
vinagre, ofereceu-a a Jesus. Mas os sacerdotes zombavam-Lhe da agonia. Enquanto
as trevas cobriam a Terra, encheram-se de temor; dissipado este, porém
voltou-lhes o medo de que Jesus lhes escapasse ainda. Interpretaram mal Suas
palavras: "Eli, Eli, lamá sabactâni." Mat. 27:46. Com amargo
desprezo e escárnio, disseram: "Este chama por Elias." Recusaram a última
oportunidade de aliviar-Lhe os sofrimentos. "Deixa", disseram,
"vejamos se Elias vem livrá-Lo." Mat. 27:47 e 49.
O imaculado Filho de Deus pendia da cruz, a carne lacerada pelos açoites;
aquelas mãos tantas vezes estendidas para abençoar, pregadas ao lenho; aqueles
pés tão incansáveis em serviço de amor, cravados no madeiro; a régia cabeça
ferida pela coroa de espinhos; aqueles trêmulos lábios entreabertos para
deixar escapar um grito de dor. E tudo quanto sofreu - as gotas de sangue a Lhe
correr da fronte, das mãos e dos pés, a agonia que Lhe atormentou o corpo, e a
indizível angústia que Lhe encheu a alma ao ocultar-se dEle a face do Pai -
tudo fala a cada filho da família humana, declarando: É por ti que o Filho de
Deus consente em carregar esse fardo de culpa; por ti Ele destrói o domínio da
morte, e abre as portas do Paraíso. Aquele que impôs calma às ondas revoltas,
e caminhou por sobre as espumejantes vagas, que fez tremerem os demônios e
fugir a doença, que abriu os olhos cegos e chamou os mortos à vida -
ofereceu-Se a Si mesmo na cruz em sacrifício, e tudo isso por amor de ti. Ele,
o que leva sobre Si os pecados, sofre a ira da justiça divina, e torna-Se mesmo
pecado por amor de ti.
Silenciosos, aguardavam os espectadores o fim da terrível cena. O Sol saíra,
mas a cruz continuava circundada de trevas. Sacerdotes e príncipes olhavam em
direção de Jerusalém; e eis que a espessa nuvem pousara sobre a cidade e as
planícies da Judéia. O Sol da Justiça, a Luz do mundo, retirava Seus raios da
outrora favorecida cidade de Jerusalém. Os terríveis relâmpagos da ira divina
dirigiam-se contra a malfadada cidade.
De repente, ergueu-se de sobre a cruz a sombra, e em tons claros, como de
trombeta, tons que pareciam ressoar por toda a criação, bradou Jesus:
"Está consumado." João 19:30. "Pai, nas Tuas mãos entrego o
Meu espírito." Luc. 23:46. Uma luz envolveu a cruz, e o rosto do Salvador
brilhou com uma glória semelhante à do Sol. Pendendo então a cabeça sobre o
peito, expirou.
Em meio da horrível escuridão, aparentemente abandonado por Deus, sofrera
Cristo as piores conseqüências da miséria humana. Durante aquelas horas
pavorosas, apoiara-Se às provas que anteriormente Lhe haviam sido dadas quanto
à aceitação de Seu Pai. Estava familiarizado com o caráter de Deus;
compreendia-Lhe a justiça, a misericórdia e o grande amor. Descansava, pela fé
nAquele a quem Se deleitara sempre em obedecer. E à medida que em submissão Se
confiava a Deus, o sentimento da perda do favor do Pai se desvanecia. Pela fé
saiu Cristo vitorioso.
Jamais testemunhara a Terra uma cena assim. A multidão permanecia paralisada e,
respiração suspensa, fitava o Salvador. Baixaram novamente as trevas sobre a
Terra, e um surdo ruído, como de forte trovão, se fez ouvir. Seguiu-se
violento terremoto. As pessoas foram atiradas umas sobre as outras,
amontoadamente. Estabeleceu-se a mais completa desordem e consternação.
Partiram-se ao meio os rochedos nas montanhas vizinhas, rolando fragorosamente
para as planícies. Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para fora
das covas. Dir-se-ia estar a criação desfazendo-se em átomos. Sacerdotes, príncipes,
soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam prostrados por terra.
Ao irromper dos lábios de Cristo o grande brado: "Está consumado"
(João 19:30), oficiavam os sacerdotes no templo. Era a hora do sacrifício da
tarde. O cordeiro, que representava Cristo, fora levado para ser morto. Trajando
o significativo e belo vestuário, estava o sacerdote com o cutelo erguido, qual
Abraão quando prestes a matar o filho. Vivamente interessado, o povo
acompanhava a cena. Mas eis que a Terra treme e vacila; pois o próprio Senhor
Se aproxima. Com ruído rompe-se de alto a baixo o véu interior do templo,
rasgado por mão invisível, expondo aos olhares da multidão um lugar dantes
pleno da presença divina. Ali habitara o shekinah. Ali manifestara Deus Sua glória
sobre o propiciatório. Ninguém, senão o sumo sacerdote, jamais erguera o véu
que separava esse compartimento do resto do templo. Nele penetrava uma vez por
ano, para fazer expiação pelos pecados do povo. Mas eis que esse véu é
rasgado em dois. O santíssimo do santuário terrestre não mais é um lugar
sagrado.
Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a vítima; mas o cutelo
cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa. O tipo encontrara o antítipo
por ocasião da morte do Filho de Deus. Foi feito o grande sacrifício. Acha-se
aberto o caminho para o santíssimo. Um novo, vivo caminho está para todos
preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita humanidade esperar a chegada
do sumo sacerdote. Daí em diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e
Advogado no Céu dos Céus. Era como se uma voz viva houvesse dito aos
adoradores: Agora têm fim todos os sacrifícios e ofertas pelo pecado. O Filho
de Deus veio, segundo a Sua palavra: "Eis aqui venho (no princípio do
Livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade." Heb.
10:7. "Por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo
efetuado uma eterna redenção." Heb. 9:12.
NOTA IASDTatuí: Leia o livro todo e compreenda o plano da Salvação iniciada no Éden, passando pela Cruz e prestes a concluir com a iminente Volta de Jesus!