Filme sobre Cristo pode mudar carreira de Mel Gibson

Sex, 20 Fev - 18h03

Por Arthur Spiegelman

LOS ANGELES (Reuters) - Um ano atrás, a idéia teria soado impensável em qualquer estúdio de Hollywood: um épico ensanguentado, legendado, sobre a morte de Jesus Cristo, dirigida por um homem que combatia demônios interiores próprios e enfrentava controvérsias a cada passo que dava.

Em lugar disso, "The Passion of the Christ", filme de 30 milhões de dólares que Mel Gibson dirigiu e pagou com seu dinheiro próprio, vai estrear na semana que vem em 2.800 salas nos EUA. Tudo indica que será um sucesso certeiro de bilheteria, graças à guerra cultural que explodiu em torno do filme e à discussão sobre se é ou não anti-semita e sobre a precisão histórica do retrato que faz de Jesus.

Como se não bastassem essas controvérsias, também se discutem acaloradamente o catolicismo ultraconservador de Gibson, o nível extremo de violência no filme e até mesmo se o diretor compartilha as opiniões de seu pai sobre o Holocausto. "É tudo ficção", disse Hutton Gibson, 85 anos, ao apresentador de TV Steve Feuerstein, em Nova York, esta semana. "Talvez não tudo, mas a maior parte."

Durante muito tempo, Mel Gibson foi um dos astros mais "bancáveis" de Hollywood: um herói de ação de primeira categoria, nascido nos EUA e criado na Austrália, que, graças aos papéis de sujeito afável que fez em filmes como "Mad Max" e a série "Máquina Mortífera", podia comandar 20 milhões de dólares por filme.

Ao mesmo tempo em que seus filmes são repletos de cenas de violência, às vezes de sadismo, o que se comentava eram seu senso de humor e seu charme. A atriz Renee Russo o descreveu como "o melhor beijador de Hollywood".

No último ano, entretanto, o que vem sendo comentado é se a carreira de Gibson poderá sobreviver a "The Passion of the Christ". Poucas vezes um filme provocou tantas divergências antes mesmo de estrear e pareceu mais destinado ao fracasso, na medida em que é um épico falado em línguas mortas (latim e aramaico).

Entretanto, graças em parte à própria polêmica e ao fato de o filme ter sido exibido para platéias cristãs favoráveis em sessões fechadas, com seus potenciais adversários sendo barrados, tudo indica que ele pode virar um enorme sucesso de bilheteria.

Na loja de ingressos online Fandango.com, "The Passion" está sendo responsável por quase 70 por cento dos ingressos vendidos antecipadamente e é o filme No. 1 na lista dos vendidos -- uma semana antes de sua estréia, marcada para a Quarta-feira de Cinzas.

O vice-presidente do Congresso Judaico Mundial, Elan Steinberg, chegou a dizer que seus colegas deveriam ter mantido silêncio sobre o filme, porque suas reclamações acabaram por atiçar o interesse em torno dele.

UMA FORTUNA EM PORÕES DE IGREJAS

O crítico de cinema da revista Time, Richard Schickel, disse que tudo indica que o filme se pagará no primeiro fim de semana nos cinemas e que, mais tarde, "fará uma fortuna sendo exibido em porões de igrejas".

Alguns líderes judeus temem que o filme atice os sentimentos anti-semitas, já que não existe nas relações entre cristãos e judeus tema mais espinhoso do que o da responsabilidade pela crucifixão de Jesus.

Mel Gibson diz que, depois de pensar em cometer suicídio 12 anos atrás, seus problemas pessoais o conduziram de volta à religião de sua infância, uma seita católica tradicionalista que rejeita as reformas do Concílio Vaticano Segundo.

Ele disse que cortou do filme um trecho de diálogo citado em Mateus 27:25 e que vem sendo interpretado como uma maldição de sangue sobre os judeus pela morte de Cristo.

As palavras não vão aparecer nas legendas, conforme o inicialmente previsto, mas Gibson admite que elas ainda podem ser ouvidas no diálogo em aramaico.

Fonte: http://br.news.yahoo.com/040220/5/ifep.html 

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