Especialista alerta para contaminação de sementes

Segunda, 23 de fevereiro de 2004, 23h12 

O DNA dos alimentos geneticamente modificados (transgênicos) está contaminando as sementes tradicionais nos EUA, o que pode ter graves repercussões para a saúde e o comércio, denunciou hoje uma associação independente.

A União de Cientistas Comprometidos baseou sua denúncia em uma análise de três alimentos de grande importância nos Estados Unidos: o milho, a canola e a soja.

Dois laboratórios independentes analisaram amostras de seis variedades dessas sementes e concluíram que pelo menos 50% das sementes de milho e de soja, e 83% das de canola continham informação genética dos transgênicos.

A contaminação pode ter ocorrido através do pólen transportado por insetos ou animais, ou pela mistura das sementes durante seu processamento, segundo Margaret Mellon, Diretora do Programa de Alimentação e Meio Ambiente da organização.

O Departamento de Agricultura não fez nenhuma declaração sobre o relatório.

A porcentagem de contaminação é pequena: entre 0,05% e 1% do genoma das variedades tradicionais provinha de sementes modificadas geneticamente, mas ainda assim é preocupante, segundo a associação.

A tecnologia dos transgênicos "é muito nova e pode ser que não conheçamos todas as suas conseqüências futuras", disse Frederick Kirschenmann, diretor do Centro Leopold de Agricultura Sustentável da Universidade de Iowa, estado que é um grande produtor de milho.

O relatório recomenda ao governo dos Estados Unidos, país que é o maior produtor de transgênicos do mundo, a criação de uma reserva de sementes "puras" que sirva de "apólice de segurança para o caso de algo sair errado", em palavras de Mellon.

Trinta e quatro por cento do milho, 69% da canola e 75% da soja cultivados nos Estados Unidos são transgênicos. Os partidários da modificação genética dos alimentos ressaltam suas vantagens, como sua resistência às pragas e sua maior produtividade, e insistem em que não há estudos científicos que provem que constituem um risco à saúde.

No entanto, Mellon, bióloga e membro de vários comitês assessores do Departamento de Agricultura, disse que não há pesquisa suficiente sobre seus possíveis efeitos. "Seus riscos não foram muito estudados. As pessoas preferem não olhar para não encontrar", declarou.

Além disso, alertou que as sementes tradicionais podem contaminar-se de genes de cultivos modificados pelas indústrias farmacêuticas para produzir remédios como anticoagulantes, hormônios e substitutos sangüíneos. "Ninguém quer ter fármacos em nossos cereais do café da manhã", disse Mellon.

A contaminação genética também ameaça prejudicar economicamente os agricultores, segundo esta organização, já que lhes fecharia mercados no Japão e na Europa, onde os consumidores se negaram até agora a consumir transgênicos.

Se os produtores norte-americanos não conseguirem sementes puras não poderão vender suas colheitas nessas regiões, que submetem as importações agrícolas a análise rigorosas para determinar seu conteúdo de material genético estranho, segundo Kirschenmann.

A dificuldade de encontrar sementes limpas de transgênicos também prejudicará os produtores de alimentos orgânicos nos EUA, de acordo com este especialista, pois para conseguir vendê-los como tais não podem conter genes alterados artificialmente.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/biotecnologia/interna/0,,OI271926-EI1434,00.html

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