As Bodas do
Senhor
"Vindas
são as bodas do Cordeiro!" Que tema para o cântico da multidão! E João
ouve-os proclamando louvores. É, na verdade, um grito de triunfo. O grande
sistema do mal e do engano está vencido. A grande e orgulhosa Babilônia está
agora em desolação, e os santos estão prestes a receber sua final recompensa.
Do trono ali presente ecoa uma ordem festiva, convocando os servos de Deus e a
todos os que O temem, tanto grandes como pequenos, para fazerem ouvir suas vozes
em louvor. Esse coro é como o som "de muitas águas" e como "a
voz de grandes trovões". Eles clamam, em triunfo: "Aleluia, pois já
o Senhor Deus Todo-Poderoso reina”.
“Regozijemo-nos,
e alegremo-nos, demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já
a Sua esposa se aprontou." (Apocalipse 19:6 e 7).
Apocalipse
19
Costumes Matrimoniais no Oriente.
Este
explodir de júbilo é uma das mais sublimes passagens de toda a Escritura. Para
entendermos melhor isto, devemos analisá-lo na situação de um casamento de
acordo com os antigos costumes do Oriente. Em primeiro lugar, havia os esposais,
considerado mais um ato do que o "compromisso" de nosso costume
ocidental. A seguir, dava-se o pagamento do dote de casamento, uma parte importante do contrato. Após isto,
vinha o período de preparação pessoal da parte da noiva, enquanto o noivo
preparava a casa.
O
casamento
não era realizado na igreja, como estamos acostumados, mas era uma cerimônia
singela em que o noivo dava um reconhecimento público de seu direito à noiva.
Isto era realizado ao lançar ele sua capa ao redor do ombro da noiva, enquanto
o acompanhamento se deslocava ao longo da estrada em que a festa nupcial devia
ser realizada.
A
festa nupcial, ou ceia das bodas, era um
acontecimento espetacular, durando, às vezes, dias e mesmo semanas. O pai do
noivo providenciava essa festa, e esta era costumeiramente realizada na casa do
pai. Era uma ocasião de honrar a seu filho e, no caso de um casamento real, o
rei às vezes dava um banquete a uma cidade ou a toda província, em homenagem
ao jovem casal, como um sinal de afeição e honra. Este regalo, costumeiramente
se realizava antes do casamento.
Quem é a Esposa?
Em
Apocalipse 21:9 e 10 a esposa é claramente definida como sendo a Santa Cidade,
a Nova Jerusalém. Em outros textos, porém, é a igreja chamada
"esposa". No Apocalipse, a esposa é mencionada como ataviada em
"linho fino, puro e resplandecente, sendo isto chamado "a justiça dos
santos" - uma figura dificilmente aplicável a uma simples cidade material.
(Apocalipse 19:8).
Há qualquer contradição aqui? - Absolutamente, não.
A cidade é a esposa, mas uma cidade sem habitantes é apenas um aglomerado de
edifícios e ruas. É o povo que ocupa a cidade, que reside em seus edifícios,
que faz da cidade o que ela é. E a nova Jerusalém, com seus muros de jaspe e
ruas de ouro, toda radiosa com a glória de Deus, deve ficar repleta de justos
de todas as eras.Paulo chama a Jerusalém celestial "a mãe de todos nós".
(Gálatas 4:26). Assim ele compara a igreja aos filhos da esposa. Nosso Senhor
faz o mesmo quando fala de Seu povo como "os filhos das bodas".
(Marcos 2:19). Em Suas parábolas, Ele assemelha a igreja a convidados a um
banquete (Mateus 22:11), noutra ocasião, comparou-a a "dez virgens",
ou damas de honra (Mateus 25:1). Essas diferentes ilustrações são usadas para
ensinar lições importantes. Não se trata de contradição. É antes um novo
modo de revelação divina. Precisamos delas para ter uma idéia completa do
quadro.
E
mais, a Cidade Santa não é apresentada no Apocalipse como esposa até que
todos os santos a estejam habitando.
Desde
o início da história humana, Deus tem procurado súditos para Seu reino.
Quando Adão pecou, Satanás, o sedutor do homem, reivindicou os reinos deste
mundo. Mas, na "plenitude dos tempos", Deus mesmo veio na pessoa de
Seu Filho "para buscar e salvar o que se havia perdido", e pelo sacrifício
de Sua própria vida, o Filho recuperou a posse perdida. Ele é o Redentor ou o
Resgatador celestial. E não devemos esquecer nunca que "Deus estava com
Cristo, reconciliando consigo o mundo". (II Coríntios 5:19).
Antecipando
o tempo em que o reino será de novo restaurado em favor da raça perdida, Deus,
através de todos os séculos, tem estado a chamar os homens para que deixem os
seus pecados e entrem em associação com Ele. Nas Escrituras, o relacionamento
entre Deus e Seu povo tem sido muitas vezes ilustrado pela relação entre
marido e mulher.
Isa.
54:4 e 5; 62:5; Jer. 2:32; 6:2; Efe. 5:32; Ose 2:19 e 20; Mat. 9:15; João 3:29;
II Cor. 11:2.
A
mais bela ilustração desta revelação do amor de Deus por Seu povo, no
entanto, encontra-se na história de Abraão enviando seu servo para procurar
uma esposa para Isaque, seu filho. (Gênesis 24).
Quando
Deus chamou a nação de Israel, falou disto como de um noivado.
"Desposar-te-ei em justiça", Ele disse. (Oséias 2:19). Alguns
separam esses textos, procurando aplicá-los tanto a Israel como nação, como
à igreja à parte de Israel, dependendo do ponto de vista particular do
interpretador. Deus sempre teve uma só igreja - formada de todas as nações e
reunida como um todo de cada geração de homens. Em Atos 7:38, lemos sobre a
igreja no deserto". Esta igreja era definitivamente composta daqueles a
quem Moisés tirou do Egito. Eram parte da verdadeira igreja de Deus, igreja
esta que existe desde os dias de Adão. Por esta esposa, ou igreja, o Esposo
celestial pagou um dote muito mais valioso do que ouro ou pedras preciosas. Este
dote foi o Seu próprio sangue, por Ele voluntariamente derramado.
Após
Seu sacrifício, veio o intervalo
de separação, quando Ele voltou para a casa de Seu Pai, tempo durante
o qual a esposa devia preparar-se. Ela devia ser vestida de "linho fino,
puro e resplandecente", que é "justiça dos santos". (Apocalipse
19:8; Apocalipse 7:13).
Enquanto
a noiva se prepara, o Noivo está-lhe preparando um lugar. "Vou
preparar-vos lugar", Ele disse: "E se Eu for, e vos preparar lugar,
virei outra vez, e voz levarei para Mim mesmo." (João 14:2 e 3). Oh,
bendita recepção, quando formos chamados para o Seu lado!
Em
Cristo fomos escolhidos desde a eternidade. (Efésios 1:4; II
Timóteo 1:9). Ao longo de todas a dispersão do Velho Testamento, as bodas
têm sido anunciadas. Quando o Filho de Deus assumiu nossa carne, ela teve sua
efetivação. Quando Ele Se sacrificou no calvário, o dote foi pago. Desde que
Ele ascendeu ao Céu, a esposa tem estado a preparar-se, e o Esposo a
preparar-lhe um lar - a Nova Jerusalém. Logo Ele virá e a chamará
para que ocupe o lugar para ela preparado.
Antes
que Ele deixe as cortes de glória, depois de haver concluído Sua intercessão,
virá perante o Pai, o Ancião de Dias, sendo-Lhe aí dado o "domínio, e a
honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas O
servissem." (Daniel 7:13 e 14). Então é feito o anúncio:
"Alegremo-nos, e regozijemo-nos, e demos-Lhe glória, porque são vindas as
bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou." (Apocalipse 19:7).
Não
admira que os ímpios se assombrem, que os não preparados habitantes da Terra
fujam para as rochas e as montanhas, pedindo para serem escondidos "da face
dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro!"
(Apocalipse 6:16). Em contraste com isto está a expectante esposa - a igreja. A
promessa é: "Bem-aventurado os que são chamados para as bodas do
Cordeiro." (Apocalipse 19:9). Quando o Esposo vier, Ele tomará o Seu povo
e conduzirá de volta ao reino de Seu Pai, onde participarão da ceia das bodas.
Olhando para esse tempo, Jesus disse: "Não beberei deste fruto da vide até
aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai." (Mateus
26:29).
Quando Ocorrem as Bodas?
Terminado
Seu ministério intercessório, Jesus vem perante o "Ancião de Dias"
para receber o reino e o domínio pelos quais morreu. (Daniel 7:13). Isto
representa, na realidade, as bodas do Cordeiro, e ocorre antes que Ele volte à
Terra para buscar os Seus santos, os quais arrebatados para encontrá-Lo, são
então levados para "as bodas do Cordeiro" na casa do Pai. (Apocalipse
19:7 a 9). Jesus disse: "Estejam cingidos os vossos lombos e acessas as
vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam
o seu senhor quando houver de voltar
das bodas." (Lucas 12:35 e 36) - Ver Primeiros Escritos, págs. 55, 251 e 280; O Grande Conflito, págs. 426 a 428.
Os
expectantes santos são a esposa para quem Ele volta. O reino e os súditos do
reino são uma coisa só. Como convidados, eles vão para a festa de bodas; como
a esposa, partilham os presentes nupciais outorgados pelo Pai como sinal de Sua
afeição quando "o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo
de todo o céu, serão dados aos santos do Altíssimo." "Chegou o
tempo em que os santos possuíram o reino." Maravilhosa possessão! Vem
depressa, grande dia de Deus!
Uma Segunda Ceia.
Os
versos finais do capítulo 19 trazem à cena outra ceia. Não é uma festa
nupcial de alegria e vitória como a que se celebra quando os justos entram à
presença do Pai, mas é a trágica ceia das aves de rapina que vêm
alimentar-se da carne dos ímpios, esses que, havendo rejeitado o convite para a
ceia das bodas do Cordeiro, são destruídos pelo resplendor da presença de
nosso Senhor. Os dias em que vivemos são dias de preparo. Enquanto o povo de
Deus está se preparando para encontrar o seu Senhor em paz, as nações da
Terra preparam-se para a guerra e o derramamento de sangue. Aqui está o chamado
que sai para as nações: "Santificai uma guerra; suscitai os valentes;
cheguem-se, subam todos os homens de guerra." (Joel 3:9). O slogan de
nossos dias parece ser: Fale de paz, mas prepare-se para a guerra. Certamente a
seara está pronta para a ceifa.
Um Abrigo Seguro.
Logo,
a besta e o falso profeta - os dois grandes sistemas de engano - serão
finalmente lançados no fogo consumidor de Deus (Apocalipse 19:20), e os ímpios,
por tanto tempo ousados e desafiadores, serão então destruídos
"pelo resplendor de Sua vinda".
Trazidos
de medo, os ímpios vêem o Senhor vindo em majestade e poder, e correm para os
abrigos das rochas e para o topo das escarpadas montanhas, por temor do Senhor e
da glória de Sua majestade, "quando Ele Se levantar para sacudir
terrivelmente a Terra". Palácios altivos e edifícios considerados à
prova de fogo, derreterão como piche. A única coisa que resistirá nesse dia
será o caráter piedoso. Foi o caráter e a experiência cristã o que
faltou as virgens loucas da parábola do Mestre. (Mateus 25:1 a 8). Deus diz:
Do trono de Deus, ouve-se uma voz, dizendo: "Louvai o nosso Deus, vós,
todos os Seus servos." (Apocalipse 19:5). A palavra "trono" ou
"assento" [lugar para sentar-se], ocorre 50 vezes neste livro, 37
vezes referindo-se ao trono de Deus, e 13 vezes ao trono de Satanás. Assim,
temos uma guerra entre tronos e os reis que eles representam. Em face ao trono
de Deus, o Seu caráter é vindicado e os propósitos do pecado são expostos.
Quando o grande juízo se encerra, dois anúncios ecoam do trono, o primeiro:
"Está Feito!" E então: "Eis que venho sem demora!"
João vê este poderoso Rei descendo em majestade, a fronte adornada com muitos diademas, pois Cristo é Rei de um reino multiforme, setuplicado: "Rei dos judeus" - pelo povo; Rei de Israel - nacional; Rei de Justiça - espiritual; Rei dos Séculos - histórico; Rei dos santos - eclesiástico; Rei do Céu - celestial; Rei da Glória - supremo. Tudo isto está unido no título: "Reis dos reis" (Apocalipse 19:16).
Quando Jesus venceu a morte e o autor do pecado, privou-o de sua pretensão de realeza. E assim é que Ele desce como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele morreu para que pudesse fazer-nos cidadãos do Seu reino.
Roy A. Anderson, Revelações do Apocalipse, 2.ª ed., 1988, pág. 203