A Natureza do Homem Segundo a Bíblia

 

Deus fez o homem de dois elementos: 1.º - pó da terra ou corpo e 2.º - fôlego da vida ou espírito, que juntos formaram uma ALMA VIVENTE, como se ver claramente nesta passagem:

Aqui, como em outras passagens da Bíblia, a palavra "alma" abrange o ser humano todo, tanto corpo (pó da terra) como espírito (fôlego de vida).

 

A idéia que o povo em geral tem da palavra "alma" é da parte invisível do homem. Acrescentamos que essa idéia popular não veio da revelação divina mas sim dos povos pagãos da mais remota antiguidade, penetrou na igreja apostatada, infiltrou-se na teologia cristã e chegou até nós com foros de verdade bíblica.

"A doutrina da imperecibilidade da alma não é bíblica, mas pagã. Nasceu na Grécia e propagou-se na Igreja, através de Platão, do século V em diante, graças à influência de Agostinho. A doutrina de sua natureza simples, una, indivisível, etc., não se mantém diante das concepções psicológicas modernas e da teoria mais racional acerca da propagação do ser humano, corpo e alma." 1 Essa afirmação é do saudoso mestre, pastor e amigo Prof. Otoniel Mota e leva nosso pleno endosso.

O homem não possui imortalidade inerente, própria, natural. Ele só adquirirá o toque da imortalidade, se for crente, por ocasião do arrebatamento, na primeira ressurreição, quando Cristo vier buscá-lo. Ler atentamente I Coríntios 15:50 a 54; I Tessalonicense 4:15 a 17; João 5:28 e 29. Diz a Bíblia que unicamente Deus possui a imortalidade. I Timóteo 1:17 e 6:16. Logo o homem é mortal. Quando criado, tinha a imortalidade sob condição, que não soube manter, pois o pecado sujeitou-o à morte. E isto se transmitiu a todo o gênero humano.

O Dr. George Dana Boardman (1828-1903), instituidor da famosa "Boardman Foundation of Christian Ethics" na Universidade de Pensilvânia, escreveu no ano de 1880 um livro interessante intitulado Studies in the Creative Week, e nessa obra, abordando o assunto da imortalidade, afirma textualmente: "Do Gênesis ao Apocalipse, nem uma só passagem - quanto eu saiba - ensina a doutrina da imortalidade natural do homem. Por outro lado, o Livro Santo declara, com ênfase, que somente Deus tem a imortalidade (I Timóteo 6:16); quer dizer: Deus exclusivamente possui a imortalidade inerente, em Sua própria essência e natureza imortal..."

Se, pois, o homem é imortal, é porque a imortalidade lhe foi concedida. Ele, então, é imortal, não porque fosse criado nessa condição, mas porque se tornou assim, sendo sua imortalidade derivada dAquele que tem, Ele só, a imortalidade. Com relação a este fato, tudo indica que a Árvore da Vida no meio do jardim do Éden fora designada como símbolo e garantia.Que este é o significado da Árvore da Vida é evidente das palavras finais do registro da Queda: 'Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da Árvore da Vida, e coma e viva eternamente, o Senhor Deus, pois o lançou fora do Jardim do Éden... E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da Árvore da Vida' .(Gênesis 3:22 a 24).

Se o homem é inerentemente imortal, que necessidade teria da Árvore da Vida? Isto se nos afigura bem claro: a imortalidade era, por qualquer razão, simbolicamente condicionada ao comer da misteriosa Árvore, e a imortalidade se destinava ao homem integral; espírito, alma e corpo." - Studies in the Creative Week, págs. 215 e 216.Aí está outro depoimento que leva nosso endosso, com a ressalva de que o fato não foi apenas simbólico mas real. O que o homem possui é o "fôlego da vida" ou "vida" (o que dá animação ao corpo), que lhe é retirado por Deus quando expira. E o fôlego é reintegrado no ar, por Deus. Mas não é entidade consciente ou homem real como querem os imortalistas.

1.ª Consideração:

Com isso pretendem provar que o homem tem natureza dupla, corpo e alma. Mas na verdade o "espírito" ou a "alma" não tem o sentido que a teologia popular lhe atribui, mas sim, "vida", "fôlego", "sopro", "respiração". Ao nascer o homem, recebe de Deus o "fôlego de vida" (Gênesis 7:22), que ao morrer não poderá reter e retorna para Deus. "Se lhes cortas a respiração, morrem, e voltam ao seu pó" (Salmo 104:29). Sim, o fôlego da vida, (e não uma entidade consciente) é recolhido por Deus quando o homem morre, para reintegrá-lo no ar. Na ressurreição, Deus soprará de novo o fôlego da vida nos mortos.

Espírito e sopro (ou fôlego) são uma coisa só, e aqui são citados para reforço. Se isto fosse uma entidade real e consciente, então se localizaria no nariz do homem o que é absurdo. (Gênesis 2:7, 7:22 e Isaías 2:22). Mas toda a confusão desaparece se traduzirmos os termos em lide por "vida", "fôlego". O pó volta à terra, e o fôlego é recolhido por Deus "que o deu".

Se "o espírito volta a Deus", então também veio de Deus, pois algo só volta de onde veio. Aí já se terá que admitir a preexistência da alma consciente, isto é, todos nós já existíamos antes de nascermos aqui na Terra. Ora, isto seria o maior dos absurdos. Ainda mais o texto diz, de maneira genérica, que todo o pó volta à terra, como o era, e logicamente toda a alma ou espírito (como querem alguns) volte para Deus.

Notemos bem: "para Deus". Então, sejam bons ou ímpios, vão fatalmente para Deus quando morrem, isto é, terão todos o mesmo destino, com a salvação garantida. Por onde se vê o engano do argumento. Era este fôlego que Cristo e Estevão não podendo reter, quando estavam prestes a expirar (e expirar significa soltar o fôlego, exalá-lo definitivamente), pediram ao Pai que o recebesse de volta. (Atos 7:59 e Lucas 23:46). Mas não era parte consciente, pois Cristo, dias depois, ressurreto, dissera: "Ainda não subi para Meu Pai."

2.ª Consideração:

Querem provar, com este texto que há corpo e alma imortal. Mas se o texto prova alguma coisa é que a alma é perecível, pois diz: "perecer... a alma e o corpo. Alma aqui tem o sentido de "vida", a "natureza espiritual do homem". Temos a promessa da vida eterna que os ímpios não podem tirar, ainda que nos matem, e neste sentido é que eles não podem matar a alma. Se somos crentes fiéis a Deus, ainda que nos matem, não pereceremos. "Espírito, alma e corpo" é uma forma redundante e enfática de definir a personalidade integral do homem.

3.ª Consideração:

Os aterrorizados discípulos, increntes na ressurreição de Cristo, julgavam ver uma "aparição", e não uma pessoa física. Quando Jesus andava sobre o mar, também julgavam ver um "fantasma", ou "espírito" conforme a crença popular.

"Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar. E os discípulos, ao verem-No andando sobre as águas, ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!" (Mateus 14:25 a 27)

E o ilustre comentarista Broadus nos confirma: "Os discípulos criam em aparições, como também os judeus (excetuando-se os saduceus), e todas as nações parecem naturalmente inclinadas a essa crença. A opinião dos apóstolos, naquele tempo, não tem autoridade para nós, uma vez que eles ainda nutriam muitas noções errôneas, das quais só foram libertados pela subseqüente inspiração do Confortador que lhes fora prometido." - Broadus, Comentário ao Evangelho de S. Mateus, vol. 2, pág. 56.

Também o notável Willinston Walker, em sua obra de história eclesiástica, falando da idéia da imortalidade natural registra: "Os fariseus ensinavam a existência de espíritos tanto bons como maus... opinião que recebeu grande impulso das idéias pérsicas. Acreditavam [os fariseus]... no galardão e suplício eterno, idéias que tiveram grande desenvolvimento nos dois séculos antes de Cristo... Os discípulos de Cristo saíram da camada religiosa imbuída destas idéias." - Willinston Walker, História da Igreja Cristã, pág. 21.

Aí está a gênese da idéia pagã imortalista que se infiltrou na teologia popular cristã. Segundo a Bíblia, Deus é espírito, os anjos são seres-espíritos, mas nunca o homem. A palavra espírito (em hebraico neshamah ou ruach e em grego pneuma) é empregada nas Escrituras com diversidade de sentidos, como:

Salmo 51:10

Ezequiel 11:5

Filipenses 1:27

Lucas 1:17

Isaías 19:14

Romanos 1:9

II Timóteo 1:7

Tiago 3:16

 

I Coríntios 4:20 e 21

Romanos 7:6

Tessalonicenses 2:1 e 2

Gênesis 45:27

Juízes 15:19

Jó 17:1

Provérbio 15:13

Ezequiel 18:31

Daniel 7:15

Ageu 1:14

Salmo 143:7

Provérbio 17:22

I Samuel 30:12

 

Jó 14:10

Jó 27:2 a 4

Lucas 8:55

Eclesiastes 12:7

Gênesis 7:15

Salmo 146:4

Tiago 2:26

Apocalipse 11:11

Jó 12:10

I Coríntios 5:5

Apocalipse 13:15

Gênesis 1:2

Isaías 44:3 e 4

Isaías 61:1

I Coríntios 6:19 e 20

Atos 8:26 comparar com o verso 29 

Hebreus 1:13 e 14

II Crônicas 18:18 a 20

No entanto em nenhum caso, espírito significa "entidade abstrata e imortal, que sobrevive à matéria."

A palavra alma (em hebraico nephesh, e em grego psyché), também tem largo emprego na Bíblia, ora significando vida, pessoa, criatura:

Gênesis 36:6

Ezequiel 13:17 a 20

Salmo 109:20

Provérbio 11:30

Atos 2:41

Gênesis 46:15

Jeremias 52:29 e 30

Levítico 17:12

Ezequiel 22:25

Atos 3:23

E abaixo reconsideramos os textos apresentados por aqueles que mantém a idéia do imortalismo:

4.ª Consideração:

Querem que isto prove a imortalidade do homem, e para isso fogem da realidade dos fatos. Aos saduceus que negavam a ressurreição, Jesus diz: "E acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou..." Mateus 22:31, e conclui: "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos." Cristo de modo nenhum Se referia à continuação da vida após a morte, mas à ressurreição, significando claramente ser a ressurreição a única porta pela qual os mortos poderão voltar à vida.

"Das 283 passagens bíblicas sobre 'espírito' (excetuando-se as 305 que mencionam espírito - Poder Divino), e nas conotações apresentadas, nada há de indicativo que sai de dentro do homem algo que tenha forma e se identifique como um ser - vaporoso, translúcido ou silhuético. Conquanto haja nas Escrituras estas variadas formas em que alma e espírito são empregados, não há delas qualquer indício que signifiquem uma "entidade abstrata que sobrevive à matéria". Não há na Bíblia nenhum texto que autorize a doutrina de uma alma ou um espírito imortais. Só Deus é imortal. (I Timóteo 1:17; I Timóteo 6:16)." - Lourenço Gonzalez, Assim Diz O Senhor,  7.ª ed., 1997, págs. 279 e 280.

 

A. B. Christianini, Subtilezas do Erro, 2.ª ed., 1981, pág. 247.

1. Otoniel Mota, Meu Credo Escatológico (opúsculo), ed. 1938, pág. 3.

 

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